Os americanos e a retirada do Iraque
O anúncio da retirada completa das tropas americanas no Iraque até 31 de dezembro encerra oficialmente uma guerra de quase nove anos, que custou aos Estados Unidos mais de US$ 1 trilhão e 4,4 mil vidas - caso o cálculo leve em conta apenas os soldados americanos mortos no conflito, e não os iraquianos e as milhares de vítimas civis.
A data já estava prevista em um acordo firmado em 2008, ainda durante o governo de George W. Bush, mas Estados Unidos e Iraque vinham negociando há meses a possibilidade de que cerca de 5 mil soldados americanos permanecessem no país por mais tempo para treinar as forças iraquianas.
No entanto, o primeiro-ministro do Iraque, Nouri al-Maliki, não conseguiu superar as divisões em seu governo e a pressão de alguns setores políticos iraquianos para o fim do que chamam de "ocupação". Após meses de negociações, não houve acordo para garantir imunidade aos soldados que permanecessem, como exigia o Pentágono.
Ao anunciar a retirada, o presidente Barack Obama disse que "o fim da guerra no Iraque reflete uma transição mais ampla" e que "a maré da guerra está recuando".
Obama citou a gradual retirada das tropas do Afeganistão e as mortes de Osama bin Laden e Muamar Khadafi, esta última abrindo caminho para o fim das operações da Otan na Líbia, para ressaltar o que considera uma vitória dos Estados Unidos e dizer que o país está "avançando a partir de uma posição de força".
Logo após seu pronunciamento, porém, já começaram a surgir críticas por parte daqueles que consideram a retirada apressada e dizem que coloca em risco os avanços obtidos em quase uma década de sacrifício no Iraque - um país que ainda sofre com divisões sectárias, ataques de insurgentes e que talvez não esteja pronto para garantir sua própria segurança.
O senador John McCain - adversário republicano de Obama nas eleições de 2008 - disse que a decisão representa "um revés triste e perigoso para os Estados Unidos no mundo" e que "será vista como uma vitória estratégica para nossos inimigos no Oriente Médio".
Candidatos à indicação do Partido Republicano para concorrer às eleições de 2012 disseram que Obama fracassou na condução de uma transição para as forças de segurança iraquianas.
Mas analistas afirmam que, em meio a uma campanha difícil à reeleição, com a popularidade em baixa e a economia em risco de nova recessão, Obama poderá usar a retirada do Iraque como um trunfo e dizer a seus eleitores que cumpriu a promessa feita em 2008, quando era candidato, de acabar com a guerra.