O dilema entre investir e pagar a conta de 2012
Esta semana duas entidades britânicas envolvidas na organização dos Jogos Olímpicos de 2012 chegaram a um acordo para encerrar uma acirrada disputa por dinheiro considerada "constrangedora" pela imprensa e políticos daqui.
As duas entidades competiam pelos lucros das Olímpiadas de Londres, uma bolada milionária. O custo das Olimpíadas de 2012 será bancado pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Londres, ou Locog, que legalmente é uma empresa controlada pelo governo britânico.

O Locog levantou dois bilhões de libras (cerca de R$ 5,1 bilhões) junto à iniciativa privada para organizar as Olimpíadas e Paraolimpíadas de Londres. A renda arrecadada pelos Jogos Olímpicos - o que inclui venda de ingressos, publicidade, direitos de transmissão - será usada pelo Locog para pagar os custos dos Jogos Olímpicos.
O lucro das Olimpíadas será dividido entre três partes. Estima-se que as Olimpíadas poderão gerar lucro de até 400 milhões de libras (mais de R$ 1 bilhão). A maior parte - 60% - vai para o desenvolvimento do esporte na Grã-Bretanha; 20% vão para o Comitê Olímpico Internacional (COI) e outros 20% vão para a Associação Olímpica Britânica (equivalente ao COB brasileiro).
A Associação Olímpica Britânica (BOA, em inglês) entrou com uma reclamação no Tribunal Arbitral dos Esportes contra o Locog. A Associação argumentava que os custos para se organizar as Paraolimpíadas não deveriam ser levados em consideração na hora de se fechar o balanço de contas. Com isso, o lucro seria maior, gerando mais dinheiro para a BOA, que enfrenta problemas financeiros.
A briga entre as duas entidades foi feia. Dois chefes da BOA que integravam o Locog foram suspensos da entidade por causa do incidente. No fim das contas, a reclamação da BOA foi mal-vista pelas demais entidades esportivas do país, e a associação recuou. O Locog argumentou que precisa levar em consideração o custo das Paraolimpíadas no balanço geral das contas para conseguir fechar no azul.
No final, valerá o acordo inicial: mais dinheiro será destinado para pagar a conta de se sediar as Olimpíadas e Paraolimpíadas, e sobrará menos recursos para investimento no futuro do esporte. O Locog aceitou ceder parte dos direitos que tem sobre alguns produtos de merchandising dos Jogos de 2012 à BOA e ajudar a Associação a arrecadar fundos. Na prática, o Locog saiu vitorioso da disputa.
Parte da imprensa britânica e alguns políticos disseram que a disputa pública entre as duas entidades é "constragedora" para o país. Mas há quem veja no episódio sinais positivos de transparência e concorrência.
Afinal de contas, a BOA expôs sua necessidade de arrecadar mais recursos para o esporte. Já o Locog estava lutando para conseguir pagar a conta dos Jogos Olímpicos sem ficar no prejuízo. A entidade, formada em 2005, será desfeita após as Olimpíadas, e o herdeiro de qualquer dívida do Locog é o governo britânico.
No Brasil, uma disputa como a que aconteceu entre os dirigentes das entidades - Colin Moynihan e Andy Hunt, da BOA, e Paul Deighton, do Locog - dificilmente se repetiria, tanto na organização da Copa de 2014 como na dos Jogos Olímpicos de 2016. Em ambos os casos, tanto a organização dos eventos como as respectivas entidades máximas são lideradas pelas mesmas pessoas.
O Comitê Organizador Local da Copa (COL) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) são presididos por Ricardo Teixeira. No Rio, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016 e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) são presididos por Carlos Arthur Nuzman.